Alexandra - Toronto[Entrevistando Expatriados] Alexandra sempre sonhou em passar um tempo na Inglaterra ou algum outro país europeu, mas acabou conhecendo um canadense que a levou ao Canadá, um país onde nunca se imaginou morando. Hoje ela é canadense com orgulho, futura historiadora, e gosta até mesmo do inverno (!)

– Nome:
Alexandra Guerson

– Onde nasceu e cresceu?
Que pergunta difícil! Nasci em Resende, RJ, quando meus pais estavam de visita à cidade para comparecer a um casamento. Na época moravam em Itajubá, MG. Apesar de sempre visitar – meus avós moravam lá – nunca morei na cidade onde nasci.
Fui criada pelo Brasil inteiro. Devido ao trabalho do meu pai, a cada dois anos no máximo (alguns lugares moramos só um ano) mudávamos de cidade. Morei em quatro das cinco regiões brasileiras (NO, NE, SE, e CO) e posso dizer que conheço bastante do nosso Brasil. Também tive a oportunidade de morar um ano nos EUA quando criança. Mas se tivesse que escolher um lugar pra dizer de onde sou, diria que sou do Rio, já que foi o lugar onde mais morei… Mas sempre fui meio sem raízes…

– Em que país e cidade você mora?
Moro em Toronto, Canada.
Alexandra - Toronto

– Você mora sozinho ou com sua família?
Moro com meu marido, que é canadense.

– Há quanto tempo você reside nesse local?
Nos mudamos pra Toronto, pela primeira vez, em junho de 2003. No final de março de 2006 nos mudamos pra Barcelona, Espanha, por um ano, e voltamos pra Toronto em maio de 2007. Antes disso morei em Montreal de novembro, 1999 até a mudança pra Toronto.

– Já residiu em outro(s) país(es) antes dessa experiência?
Sim, quando tinha 6 anos meu pai foi fazer um curso de um ano nos EUA. Fiz a primeira série lá. Foi uma experiência que marcou muito a minha vida. Apesar das saudades dos avós e dos primos no Brasil, eu me lembro de ter amado a experiência de viver num lugar diferente, aprender um idioma novo, etc. Desde que voltei ao Brasil, com sete anos, que eu sonhava viajar o mundo e morar em algum outro país. Mas nunca imaginei que viria para o Canadá.

– Qual sua idade?
Farei 33 anos em maio.

– Quando surgiu a idéia de residir no exterior?
Como eu disse acima, eu sempre tive um interesse em morar um tempo no exterior. Com 20, 21 anos eu comecei a pesquisar cursos de inglês na Inglaterra. Era o ano de 1996 e eu tinha descoberto a Internet pela primeira vez. Na época, praticamente ninguém tinha acesso à internet e eu descobri através de um primo que trabalhava para a Organização Mundial da Saúde, em Brasília. Em junho de 1996 eu finalmente instalei internet em casa e fiquei maravilhada com a oportunidade de conhecer pessoas do mundo inteiro e aprender mais sobre outras culturas. Em setembro conheci o Alan, um canadense de Montreal que se ofereceu para me mandar um cartão postal (eu colecionava) de sua cidade. Nos falávamos diariamente e logo descobrimos que tínhamos algo especial. Nos apaixonamos online, eu transferi a idéia do curso de inglês para Montreal e em julho de 1997 eu vim para o Canada pela primeira vez para conhecê-lo fisicamente.

– Foi difícil conseguir o visto de residência ou o visto de trabalho?
Acho que tive muita sorte com todos os vistos que tive que pedir. Era o destino dizendo que tínhamos que ficar juntos mesmo! Quando vim visitar pela primeira vez, tive que pedir visto para os EUA, pois iria fazer conexão, e para o Canadá. O visto do Canadá foi emitido no mesmo dia, na época era bem fácil conseguir visto de turismo, pois poucos brasileiros vinham para o Canadá. O visto americano era mais difícil, me disseram. Ouvi histórias terríveis sobre a fila enorme do consulado americano no Rio de Janeiro. No dia que eu fui tinha uma única pessoa na minha frente. Entrei em cinco minutos, entreguei os documentos, respondi umas perguntas e me mandaram voltar em três dias pra buscar o visto. Três dias depois foi a mesma coisa, entrei sem fila alguma e me entregaram meu passaporte com um visto de múltiplas entradas válido por dez anos. Acho que nas duas visitas não gastei mais de meia hora no consulado.
Eu e o Alan nos casamos em novembro de 1999 e em janeiro de 2000 dei entrada no processo de imigração. (http://www.cic.gc.ca/english/immigrate/sponsor/index.asp). O processo é meio chatinho mas não foi difícil. Dei entrada dentro do Canada mesmo e em outubro de 2000 virei residente permanente. O mais difícil, foi passar os meses entre janeiro e julho sem poder estudar nem trabalhar, já que estava aqui como turista. Mas consegui uns trabalhos voluntários e em julho passei de uma certa fase no processo que me permitiu começar a cursar os cursos de francês oferecidos pela província do Quebec aos seus imigrantes.

– Você tem seguro saúde? Foi difícil obtê-lo antes ou depois da sua chegada?
No Canadá temos acesso a saúde pública gratuita. A partir do momento em que me tornei residente permanente, passei a ter acesso a isso. Nunca tive problemas com atendimento médico aqui no Canadá e confio no sistema, apesar de seus problemas de falta de profissionais em certas áreas.

– Você trabalha? Como a renda familiar é obtida?
Eu me formei em Direito no Brasil e quando vim para o Canadá decidi aproveitar a oportunidade e realizar meu sonho. Sempre amei História mas nunca pensei em ser professora no Brasil, pois não é uma profissão com muito incentivos. Aqui no Canadá, a profissão de educador é muito mais valorizada e eu queria ser professora universitária. Para ter chances de competir em condições de igualdade com o pessoal daqui, eu resolvi recomeçar do zero e fazer outra graduação. A universidade de Concordia, em Montreal, me deu vários créditos pelo meu curso de Direito e eu pude terminar o curso de historia em dois anos e meio. Hoje estou cursando o doutorado na Universidade de Toronto e nos primeiros quatro anos do curso eu recebi bolsas dos governos provinciais de Ontario e Quebec, e do governo do Canada. Esse ano recebo bolsa da universidade e trabalho como teaching assistant (algo como “monitor” no Brasil). Meu marido tinha um bom emprego na Air Canada e hoje atingiu “freedom 55” e se aposentou e recebe pensão da Air Canada.

– Se a resposta anterior foi sim, você mudou de área depois da saída do Brasil ou continua no mesmo setor?
Resposta acima…

– Você fala a língua local? Você acredita que é importante aprender a língua local?
Eu acredito que não há como morar em um lugar sem falar o idioma local sem ser marginalizado. Se optamos por morar em um local, o mínimo que podemos fazer é falar o idioma local. Eu acredito que tendo chegado ao Canadá já fluente em inglês e com um francês razoável me ajudou muito a me integrar mais facilmente e a aproveitar todas as oportunidades que me foram oferecidas. É claro que ninguém é obrigado a já chegar sabendo fluentemente o idioma; eu tive sorte por ter morado nos EUA quando criança e tendo aprendido o inglês quase como um idioma nativo. Mas a maioria dos países oferecem facilidades para que os imigrantes aprendam o idioma local já que é fundamental para que o imigrante possa participar ativamente da sociedade local.

– O que você pensa sobre seu novo país e o local onde mora (e/ou onde morou)? Eles respeitam os Brasileiros e outros expatriados vivendo nesse país?
Eu adoro o Canadá e sua política de apoio à imigração e o incentivo ao multiculturalismo. Desde que o mundo é mundo as pessoas migram para onde há melhores oportunidades e o mundo hoje em dia está cada vez mais dinâmico. Além disso, os países industrializados têm baixa taxa de natalidade e precisam mais e mais de renovar sua população através da imigração. Eu acredito que o futuro está em uma política aberta de imigração e um tratamento positivo ao imigrante. E para que essa política dê certo, o país tem que educar sua gente sobre os aspectos positivos do multiculturalismo e dar condições justas para que os imigrantes possam progredir. Ele também deve tornar fácil a transição de imigrante a cidadão e não pode diferenciar entre um cidadão nato e um naturalizado. Isso tudo o Canadá faz. É claro que há problemas e nem tudo é um mar de rosas, mas considerando o número de imigrantes nesse país, a quantidade de etnias diferentes em cidades como Toronto e Montreal, é incrível como os problemas sociais são mantidos no mínimo.
Desde que cheguei eu vivo em um ambiente bem canadense. Tendo casado com um canadense, inicialmente eu entrei para seu círculo de amizades. Como ele vivia em uma parte de Montreal onde moram poucos imigrantes, a maioria dos nossos amigos eram canadenses. Na faculdade, a maioria dos meus amigos eram canadenses também. Nunca tive o menor problema de relacionamento com as pessoas daqui por ser brasileira e nunca escondi minhas origens. Em Toronto, por morarmos no centro e esta ser uma cidade mais multicultural, o que eu ADORO, e temos amigos de vários países diferentes. Nossos amigos mais próximos aqui são da China, Australia, e Holanda. Recentemente comecei a fazer amizades com brasileiros também. Em Montreal conhecia somente uma brasileira. Aqui em Toronto conheci uma na faculdade, e recentemente conheci mais alguns pela internet. A maioria dos meus colegas de faculdade são canadenses ou americanos, pois estes são maioria na minha área de estudos.
Alexandra - Toronto

– Você tem filhos? Se sim, eles se adaptaram ao novo país? Estudam e têm amigos locais?
Não tenho filhos, mas trouxe uma cadelinha do Brasil e em pouco tempo ela já entendia inglês 😉

– Sente saudades da família no Brasil?
Sim, mas aos poucos as saudades vão diminuindo. Muitos familiares já me visitaram aqui e na Espanha, e nós sempre vamos visitá-los no Brasil.

– O que costuma fazer nas horas vagas, finais de semana e feriados? Quais as atividades recreacionais existentes?
Alexandra - TorontoNas horas vagas, eu e meu marido gostamos de explorar a cidade onde moramos, visitar amigos e nos dedicarmos a fotografia, que é nosso hobby. Todo sábado, aqui em Toronto, nós vamos de manhã ao Kensington Market, onde tomamos café da manhã em uma lanchonete e depois vamos para o Louie’s Cafe tomar o melhor café da cidade, na nossa opinião. Chova ou faça sol, verão ou inverno, nós vamos lá todo sábado de manhã. Às vezes encontramos com amigos outras vezes fazemos novos amigos – sempre encontramos alguém interessante para bater papo por lá. No verão e outono, Toronto fica tomada por vários festivais e nos fins de semana ou feriados aproveitamos pra visitar o que está acontecendo. Aliás, nessa época do ano as opções de lazer são inúmeras pois o canadense aproveita MUITO o verão. Entre maio e outubro nós aproveitamos pra passear bastante de bicicleta, caminhar, etc. No inverno continuamos caminhando, mas não saímos tanto pois o ano letivo começa e eu passo a ter menos tempo.

– Você tem planos para o futuro? Pretende viver nesse país para sempre?
O plano A é conseguir um emprego de professora universitária e nos instalarmos definitivamente onde eu conseguir emprego. Pretendemos continuar no Canada e seu eu conseguir uma posição acadêmica devemos passar uns meses todos os anos na Espanha, onde eu faço a minha pesquisa e que tem se tornado nossa segunda casa. Se eu não conseguir uma posição acadêmica – o mercado é muito incerto – não descartamos a possibilidade de nos mudarmos pra Espanha. Em certos pontos eu gosto mais do Canada do que da Espanha mas adoraria passar uns anos por lá aprimorando o espanhol e aprendendo catalão…

– Você comprou ou alugou o local que reside? Quanto pagou ou paga por isso? Comprar imóveis é algo comum nesse país?
Nós alugamos um apartamento de dois quartos, no centro de Toronto, por CDN$ 1.450,00 por mês. Aqui é bem comum comprar imóveis mas como não sabemos se ainda estaremos em Toronto daqui a cinco anos, achamos melhor alugar por enquanto.

– Qual o custo de vida?
Eu acredito que uns 3.000 dolares canadenses, líquidos, seria o mínimo para uma família se sustentar.

– Quais os pontos positivos e negativos de morar nesse país?
Pontos positivos incluem maior segurança, saúde e ensino público de qualidade, inclusão social, acesso ao ensino superior, respeito aos idosos, oportunidade de empregos e mudança de carreira mesmo em idades mais avançadas, justiça social, a valorização do talento pessoal e apoio aos ideais social democratas.
Pontos negativos temos uma cultura consumerista, a maioria da população com um estilo de vida não-sustentável ecologicamente falando, a necessidade de ter um carro na maioria das cidades, a falta de visão dos governantes em relação ao transporte público.

– Você tem sugestões ou dicas para pessoas que pretendem viver nesse país?
A única coisa que eu posso dizer para pessoas que queiram trocar seu país por qualquer outro é que nenhum país é perfeito, venha com a cabeça aberta e uma atitude positiva para poder ver o que o país tem de melhor. Pra quem não tem medo de recomeçar e trabalhar duro, o Canada é uma país muito bom pois seu esforço será sempre reconhecido.

– Você gostaria de recomendar algum web site ou blog relacionado à esse país?
Canada Immigration – site oficial de imigração ao Canadá
Cravo e Canela no Canadá – Daniel, Raquel e sua filhinha Gabriela se preparam para imigrar de Fortaleza, CE para o Canadá. O Daniel é um cara super inteligente e que tem se preparado bem para o processo. O site possui inúmeras fontes de informações sobre o processo além de links para uma infinidade de blogs de brasileiros que já estão no Canada e outros, como ele, que ainda estão no Brasil.
Building Bridges – Meu blog pessoal; não trata exclusivamente sobre imigração ou sobre a vida de expatriado, já que me sinto em casa no Canada e não me vejo como tal, mas eu falo muito sobre minha vida aqui e converso sobre assuntos que me interessam.

Participe… Deixe seu comentário!

Leia todas as entrevistas do Entrevistando Expatriado