Lisboa by Marcita [Entrevistando Expatriados] Marcita vive em Lisboa há 5 anos. Apesar de falarmos a mesma lingua e termos tantas coisas em comum, começar a vida em um novo país nem sempre é um conto de fadas… Mas com muito empenho, os sonhos acabam se tornando realidade.
Conheça os sabores e dissabores de viver na capital de Portugal.

Nome:
Marcita

– Onde nasceu e cresceu?
Rio de Janeiro, Brasil.

– Em que país e cidade você mora?
Lisboa, Portugal.
Lisboa by Marcita

– Você mora sozinho ou com sua família?
Com meu marido e nossos gatos.

– Há quanto tempo você reside nesse local?
5 anos.

– Qual sua idade?
Quase 30 anos.

– Quando surgiu a idéia de residir no exterior?
Pensei ter encontrado o Príncipe Encantado. Depois disso, não imaginava que, começar uma vida no exterior pudesse ser complicado, afinal, se tinha o suposto homem da minha vida ao meu lado, nada poderia correr mal. Mas literalmente da noite para o dia tive que decidir o que fazer da minha vida e recomeçar, num país que eu nem conhecia!

– Foi difícil conseguir o visto de residência ou o visto de trabalho?
Entrei como turista. Depois obtive a nacionalidade portuguesa, por ser filha de uma portuguesa.

– Você tem seguro saúde? Foi difícil obtê-lo antes ou depois da sua chegada?
Não tenho. Quando estava para sair do Brasil, pensei em fazer o seguro da Amil, mas era caríssimo. Como para turista não pediam o seguro, viajei sem ele. Passei anos dependo do sistema público de saúde português.

– Você trabalha? Como a renda familiar é obtida?
Pensei que fosse fácil conseguir emprego numa empresa ou num escritório aqui em Portugal por causa da língua, do suposto laço afectivo entre os dois países. Como eu ainda estava a espera da minha nacionalidade, só com o visto de turista, não conseguia nada (mesmo justificando, com documentos, que estava a espera da nacionalidade), só mesmo limpezas ou como doméstica. Foi um período muito, muito difícil para mim.
Como não tenho pais com dinheiro para meu sustento, tive que encarar o que apareceu (trabalho honesto, claro). Trabalhei de empregada, babá, garçonete, apoio em estádio de futebol, fiz embrulhos de Natal numa loja… foram quase 5 anos tentando encontrar algo que valesse a pena.
Hoje trabalho num lugar que gosto muito. As provas para ingresso foram difíceis, mas sobrevivi e acho que, por ser uma multinacional, a nacionalidade não pesou na hora das entrevistas que fiz.

– Se a resposta anterior foi sim, você mudou de área depois da saída do Brasil ou continua no mesmo setor?
Como sou advogada, nenhum emprego antes, chegou perto do que eu fazia no Brasil. Agora eu trabalho numa área que nunca antes tinha trabalhado. É um campo completamente novo para mim.

– Você fala a língua local? Você acredita que é importante aprender a língua local?
Falo por ser o português, mas aqui eles dizem que falo “brasileiro”. Os mais idosos têm dificuldade para entender. Não consigo pegar o sotaque. Mas isso não me incomoda também. No início eu não entendia NADA. Nem via televisão porque ficava cansada de tentar entender o que estavam a falar. Hoje não mais.
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– O que você pensa sobre seu novo país e o local onde mora (e/ou onde morou)? Eles respeitam os Brasileiros e outros expatriados vivendo nesse país?
Aaaaaaaaah… Eu tenho muuuuuuuitas histórias para contar. Já passei por tanta coisa! O que eles mais gostam de dizer é “volta pra tua terra!” Brasileiro é, muitas vezes, mal visto aqui. Lembro que, uma coisa é vir a Lisboa a passeio, outra, viver cá. As pessoas são grosseiras na maioria das vezes, vivem sempre prontas para darem más respostas, é incrível! Não apenas com estrangeiros, mas entre eles mesmos.
Reconheço que tenha MUITO brasileiro vivendo cá e comportando-se como se estivessem no quintal da casa deles (já vi brasileiro descalço no metro achando que estava “tirando onda”), por isso, acho, o português acaba por ter uma má vontade conosco (a fama da mulher brasileira, do brasileiro que quer ser esperto, o má educação da música em alto volume o tempo todo…). É uma questão de adaptar-se e abstrair. Eu ainda não consegui. Mas onde trabalho não sinto preconceito algum. Sempre brincam com o sotaque, mas brincadeiras normais, que não ultrapassam o limite.

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– Você tem filhos? Se sim, eles se adaptaram ao novo país? Estudam e têm amigos locais?
Eu não tenho filhos ainda porque como trabalho o dia todo, dependeria de uma creche para deixá-lo e ainda não estou pronta para isso. Mais tarde sim, com certeza.
Quanto aos amigos, respondo por mim. Tenho amigos portugueses sim. Antes a maioria era de brasileiros ou africanos. Agora posso dizer que, talvez, tenha mais amigos portugueses. Isso requer aprender um pouco a etiqueta deles aqui. Pequenos detalhes como ligar no dia seguinte para agradecer um jantar que tenha ido na casa de alguém; não aparecer de surpresa na casa dos outros; não levar agregados a eventos se eles não foram convidados etc.

– Sente saudades da família no Brasil?
Claro! Meu medo maior era que alguém morresse enquanto estou cá e não poder ir ao enterro. E isso aconteceu no ano passado, quando minha avó faleceu. Ainda está sendo difícil para mim superar a morte dela.
E, além da saudade da família, sinto saudades de coisas que eu fazia no Brasil, como o Carnaval, os barzinhos, a água de coco, o calor.

– O que costuma fazer nas horas vagas, finais de semana e feriados? Quais as atividades recreacionais existentes?
Geralmente brasileiro aqui trabalha inclusive aos sábados (eu não!). Então há muitas reuniões aos domingos, com churrascada e, quando é verão, praia. Os locais gostam muito de centros comerciais, de viajarem para “a terra” (onde geralmente vive a família, no interior), aos jogos de futebol, mas, sobretudo, irem ao café.
No início eu ia, todos os domingos, a um lugar turístico diferente. Queria conhecer tudo. Pegava trem, ônibus, mas chegava nos lugares. Agora eu gosto muito de dar jantares na minha casa ou vou para a casa de amigos. Vamos ao cinema e, claro, ao shopping.
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– Você tem planos para o futuro? Pretende viver nesse país para sempre?
Não tenho planos concretos para o futuro, mas não vejo-me a viver para sempre em Portugal. Vamos ver, quem sabe? Sempre disse que ficaria cá se arrumasse um emprego que valesse a pena. Agora com esse meu emprego.. Mas se eu tiver a chance de mudar, assim o farei.

– Você comprou ou alugou o local que reside? Quanto pagou ou paga por isso? Comprar imóveis é algo comum nesse país?
Alugamos. Pago 450 Euros por um apartamento de 3 quartos. Ainda não compramos porque não sabemos se ficamos por aqui. É muito comum as pessoas comprarem casa. Acho que todos os bancos oferecem crédito à habitação e as prestações rondam os valores de uma renda.

– Qual o custo de vida?
Com o que eu e meu marido vivemos, em outros países da Europa estaríamos a passar uma situação mais apertada, mas como não temos filhos, o que ganhamos dá para vivermos tranquilos, sem fazer contas. Mas para 4 pessoas numa família, acho que com uns 4 mil viver-se-ia bem. Não sei. Tem gente que ganha 400 Euros por mês e tem filho! Isso depende da vida que cada um quer para si. Ou que consiga viver.

– Quais os pontos positivos e negativos de morar nesse país?
Positivos: A língua; as coisas brasileiras que encontramos cá (tem quase tudo!); os lugares históricos; poder ir a vários shows e espetáculos que nem sempre chegam ao Brasil; o clima (estações bem definidas e um inverno nem tão frio assim); a segurança que tenho; facilidade em comprar coisas que não conseguiria no Brasil (ou teria que parcelar em muuuuuuuuuuitas vezes).
Negativos: A má vontade com os brasileiros; o trânsito (é muuuuito difícil alguém dar passagem); os meios de transporte; poucas opções de empresas aéreas low cost e os baixos salários.

– Você tem sugestões ou dicas para pessoas que pretendem viver nesse país?
Aqui sempre tem emprego. Sei que brasileiro sempre diz que faz qualquer coisa, que não se importa de pegar no pesado, mas com o tempo, o pegar no pesado sem recompensa, cansa. No início, o salário de 500 Euros parece uma fortuna, mas tem que pensar que gasta-se em Euros e que um aluguel sai por cerca de 400 Euros, a não ser que a pessoa divida apartamento com mais 5 ou 6 brasileiros (foi o que eu fiz no início). Aí o gasto com a casa ronda os 250 Euros por mês.
Antes de vir para cá sonhando ficar rico, lembre-se que vai ter que trabalhar MUITO (principalmente quem tem apenas o 2º grau, ou ensino médio, sei lá) para ter as coisas e que a tentação para gastar o dinheiro aqui é grande. Sugiro que, se quiser apenas fazer dinheiro e voltar, estabeleça um plano, um valor para juntar mensalmente. A vida aqui não é tão fácil quanto parece! E viver longe da família é muito complicado.

– Você gostaria de recomendar algum web site ou blog relacionado à esse país?
– Blog Pessoal: http://www.marcita.blogspot.com/
– Blog recomendado: http://www.imigrantesofre.blogspot.com/

– Consulado Brasileiro em Lisboa: http://www.consulado-brasil.pt/

– Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF): http://www.sef.pt/
– Alto Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI): http://www.acidi.gov.pt/

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