Luisa na ItaliaLuisa sempre sonhou em viver no exterior. Na adolescência pensava em ir para os EUA, mas foi a Europa que ela escolheu viver na vida adulta. Com o passaporte Português em mãos, foi à Coimbra fazer mestrado.
Ex-advogada, hoje vive em Milão (Itália) e trabalha com turismo. Ser flexível e adaptável são seus conselhos para os futuros expatriados.
Conheça um pouco mais de sua história…

Vivendo em Milão

– Nome: Luísa

– Onde nasceu e cresceu?
Nasci no interior do Paraná e morava em Curitiba

– Em que país e cidade você mora?
Milão – Itália –

– Você mora sozinho ou com sua família?
Moro com meu namorado

– Há quanto tempo você reside nesse local?
Há 1 ano e meio

– Já residiu em outro(s) país(es) antes dessa experiência?
Antes de vir pra Itália, morei um ano em Coimbra, Portugal, para estudar.

– Qual sua idade?
32

– Quando surgiu a idéia de residir no exterior?
Desde que me conheço por gente… Meu sonho de menina era fazer intercâmbio nos Estados Unidos… Mais crescidinha, descobri que a Europa tinha mais a ver comigo e reuni minhas forças ($$$) para realizar meu sonho

– Foi difícil conseguir o visto de residência ou o visto de trabalho?
Eu tenho cidadania portuguesa e não foi difícil obtê-la, só foi caro e demorado (uns 3 anos de papel indo e vindo). Pra quem se interessar, o Consulado português dá os detalhes.
Em Portugal eu sou uma nacional e a única parte chata, foi enfrentar a burocracia e ir atrás dos outros documentos, como o documento equivalente ao CPF, a Previdência Social, a Carteira de Motorista, essas coisas…
Na Itália, a situação muda um pouco. Ao contrário do que muita gente pensa, não é porque eu tenho um passaporte europeu que eu posso morar em qualquer país da Europa sem problemas e sem limites. É claro que um cidadão comunitário tem algumas “regalias burocráticas”, como não precisar de visto, mas deve requerer a residência ao governo do país onde pretende morar e para obtê-la deve apresentar uma série de documentos como seguro de saúde, comprovante de rendimentos, etc… O site da Comune de Milão explica como proceder.
Não é difícil fazer essa residência, mas dá um trabaaalho… Tive que ir e voltar ao órgão competente umas três vezes porque tinha sempre uma coisa que não tava certa e o tempo médio de espera para ser atendida era de 3 – 4 horas. Além disso, a má vontade impera e a ignorância dos funcionários públicos é impressionante! Pra se ter uma idéia, me pediram uma tradução registrada em consulado (!!), do meu cartão de saúde europeu! Ninguém ali sabia que não se traduz um documento expedido pela Comunidade Européia!! É tão absurdo como pedir a tradução de um passaporte!! Mas não teve conversa… Ah, e é claro que o Consulado português se recusou a traduzi-lo…

– Você tem seguro saúde? Foi difícil obtê-lo antes ou depois da sua chegada?
Eu uso o sistema público de saúde, e nunca tive problemas.

– Você trabalha? Como a renda familiar é obtida?
Eu vim pra Europa para fazer um mestrado na Universidade de Coimbra e, então, economizei o suficiente para me manter por uns 2 anos sem precisar trabalhar. Quando decidi morar na Itália, trabalhei alguns meses como recepcionista, para aprimorar meu italiano e, com o fim do mestrado, comecei a trabalhar na área de turismo. Em ambos os casos, o emprego foi obtido através do site Infojobs e o fato de eu ter fluência em três línguas (português, inglês e italiano) foi o diferencial.

– Se a resposta anterior foi sim, você mudou de área depois da saída do Brasil ou continua no mesmo setor?
No Brasil era advogada, mas na Itália estou trabalhando com turismo.

– Você fala a língua local? Você acredita que é importante aprender a língua local?
Acredito que falar a língua local pode, ou não, ser importante segundo os objetivos pessoais de cada um. Aprender italiano foi a primeira coisa que fiz quando vim morar em Milão, pois, pra mim, é o mínimo que se espera de alguém que, como eu, queira realmente se integrar a uma nova cultura e assumir o novo país como “casa”. Mas, ainda que não seja esse o objetivo, e que conhecer o idioma não seja essencial para sobreviver, “saber não ocupa espaço” e falar a língua local ajuda muito na hora de conseguir um emprego melhor, de se fazer entender (e respeitar) em órgãos públicos, e até na hora de fazer atividades banais do dia a dia, como ir ao supermercado, chamar um chaveiro, ou um eletricista…

– O que você pensa sobre seu novo país e o local onde mora (e/ou onde morou)? Eles respeitam os Brasileiros e outros expatriados vivendo nesse país?
Vou relatar um pouco da discriminação na Itália e em Portugal, pois pelo que eu pude perceber, o tratamento aos imigrantes muda conforme os problemas de imigração do país. Antes de começar, no entanto, quero salientar que adorei morar em Portugal, conheci pessoas incríveis por lá e também fui muito bem recebida na Itália e considero Milão a minha casa. Quero ressaltar, ainda, que não são todas as pessoas e nem a maioria que te discrimina, os exemplos de discriminação a seguir servem só para ilustrar o que aconteceu comigo e para alertar que qualquer imigrante está sujeito a ser vítima de xenofobia e de exclusão, em maior ou menor grau. Gostaria também de deixar claro que entender e aprender a lidar com esse tipo de tratamento, colaborou muito com a minha adaptação em um novo país, sem precisar me fechar em grupos de brasileiros para me sentir “incluída”.
Começando por Portugal, que foi a minha primeira casa européia e onde encontrei a maior “densidade demográfica” de brasileiros e, consequentemente, onde fui mais discriminada.
Luisa na Italia

Eu adoro Portugal e tenho um carinho todo especial por Coimbra, mas confesso que não foi amor à primeira vista, pelo contrário, a minha primeira impressão do país não foi das melhores e só aos poucos é que Portugal foi me conquistando. E não é para menos, eu ainda estava no Brasil, preparando os documentos, quando resolvi telefonar para a faculdade de Coimbra para sanar algumas dúvidas sobre a documentação exigida e, por curiosidade, perguntei se havia alguma diferença na admissão de brasileiros e de portugueses (me referia à documentação extra ou à existência de testes). Pode até ser que tenha me expressado mal, mas a resposta que obtive da faculdade, em tom pejorativo, foi: “Infelizmente não, minha senhora!”.
Já morando em Portugal, quando fui pedir informações de como proceder para a inscrição na Segurança Social, a “gentil” senhora que me atendeu, antes de me fazer qualquer pergunta e com base apenas no meu sotaque, soltou essa: “Ora pois, imagina se agora todos os brasileiros resolvem se inscrever aqui, o que esse país não vai virar!”.
Mas, em Coimbra felizmente eu fui morar com mais 3 portuguesas, simpaticíssimas e que me receberam super bem, e esta foi a melhor coisa que pude fazer. Além da amizade, morando com elas comecei a entender melhor (o que não significa aceitar nem concordar) alguns comportamentos dos portugueses. Por exemplo, como você agiria se, na sua cidade, as brasileiras dominassem o mercado da prostituição?. Pois é… uma de minhas amigas portuguesas, para me elogiar, uma vez me disse que eu não parecia uma brasileira… Embora tenha sido um comentário infeliz, baseado em falsas generalizações e preconceitos, percebi que não havia maldade e que o objetivo não era ofender as brasileiras, o que ela quis dizer é que eu fugia do estereótipo das brasileiras que existem por lá, normalmente vulgares (talvez por exigência da “profissão”).
Na Itália, eu percebo uma discriminação maior com os europeus do leste. Digamos que, aqui, é melhor ser brasileiro do que ser romeno. Os brasileiros são vistos como pessoas alegres e felizes, que por um lado é bom, mas por outro, pode descambar para “o Brasil é a terra do oba-oba”, onde não existe seriedade, tanto que fui “orientada” pelo meu chefe a dizer que sou portuguesa e não brasileira, se alguém perguntar pelo meu sotaque…

– Você tem filhos? Se sim, eles se adaptaram ao novo país? Estudam e têm amigos locais?
Não tenho filhos.

– Sente saudades da família no Brasil? Sente falta de produtos, alimentos e outras peculiaridades?
Muita! A saudade da família e dos amigos é muito dolorida, mas ainda bem que já inventaram internet, telefone e férias. Com relação aos produtos, alimentos e outras peculiaridades, sinto, sim, falta de algumas coisas, mas não porque são do Brasil, mas porque são coisas que me marcaram e que eu só consigo encontrar em um determinado lugar. Por exemplo, do Brasil eu sinto falta da carne, das frutas, do Cheddar Mc Melt… mas também sinto falta dos pastéis de Belém e do bacalhau com natas em Portugal, da cerveja e dos chocolates da Bélgica, das salsichas da Alemanha, do foie gras da França…

– O que costuma fazer nas horas vagas, finais de semana e feriados? Quais as atividades recreacionais existentes?
Pra mim (e descobri que para boa parte dos italianos), férias, feriado, final de semana é sinônimo de viagem, pode ser para um lugar perto, como uma vinícola no Piemonte, alguma praia, ou para as montanhas (conforme o clima), ou então uma viagem mais longa para um outro país europeu (tem muita low cost que sai de Milão por preços convidativos). O destino vai depender do tempo e do dinheiro disponível no momento. Quando ficamos em Milão, geralmente vamos com os amigos a museus, restaurantes, cinema, ou então ficamos em casa mesmo, fazendo nada, só curtindo o aconchego do lar. Não sei dizer o que os brasileiros costumam fazer por aqui nas horas vagas, pois não conheço nenhum, pode parecer arrogante da minha parte afirmar isso, mas se quisesse conviver com brasileiros, teria ficado no Brasil.

– Você tem planos para o futuro? Pretende viver nesse país para sempre?
Adoro morar em Milão, a cidade tem tudo a ver comigo e, até prova em contrário, pretendo ficar por aqui.
Luisa na Italia

– Você comprou ou alugou o local que reside? Quanto pagou ou paga por isso? Comprar imóveis é algo comum nesse país?
O metro quadrado em uma região mais ou menos central em Milão custa em torno de 6 a 8 mil euros (conforme a região e o apartamento). Em Coimbra, eu pagava uns 200 euros por mês por um quarto sozinha, dividindo banheiro, num apartamento com mais 3 meninas, com água, luz, internet, tv a cabo e faxineira uma vez por semana, incluídos no valor.

– Qual o custo de vida?
Isso é muito relativo, depende do padrão de vida que você pretende levar. Ao contrário do Brasil, com um salário mínimo italiano é possível viver com dignidade (ainda que com um orçamento apertado). Acredito que uma familia de 4 pessoas com uns 2,5 salários minimos já vive bem.
Uma vez, li uma reportagem sobre o Big Mac como índice econômico, para calcular o padrão de vida de diversos países, pois, segundo a reportagem, o Big Mac usa os mesmos ingredientes em todo o mundo. Não sei o quão verdadeira é essa teoria, mas achei divertida a idéia. Se não estou desatualizada (faz muito tempo que não vou ao McDonald’s), um menu nº 1 em Milão custa 5,90 euros e em Coimbra custa 4,80 euros.

– Quais os pontos positivos e negativos de morar nesse país?
Primeiro ponto positivo é a segurança, por incrível que pareça, em Milão eu posso andar com meu computador no metrô e posso parar no semáforo à noite com a janela do carro aberta! (É claro que, por ser uma cidade grande, tem lá os seus problemas e é bom não bobear.) Outra coisa de que eu gosto muito é a intensa vida cultural, tem sempre bons espetáculos, shows, mostras… Além disso ainda tem a comida que é fantástica e a facilidade para viajar pra todo o lado.
Mas um ponto que me impressionou muito foi a preocupação dos italianos (pelo menos daqueles que eu conheço) com a qualidade das coisas, em vez de se preocuparem tanto com a quantidade. Me explico: no Brasil estava acostumada com a idéia do “quanto mais, melhor”, restaurante bom é aquele com fartura, rodízio com muita carne e um buffet bem variado, onde se paga um valor fixo e se come o quanto quiser . Na Itália aprendi a controlar a procedência dos produtos, verificar se os ingredientes são frescos e da estação, a evitar alimentos congelados… Mesmo em casa, a comida é feita sempre na hora e na quantidade certa para as pessoas presentes, os pratos vêm prontos da cozinha e não existem panelas na mesa, em que cada um se serve à vontade. Isso significa que são raros os “potinhos” com sobras na geladeira, e não existe aquela história de “fazer um pouco mais de comida para sobrar pra janta…”.
E não é assim só com comida, não. Aprendi a olhar etiqueta de roupa pra ver onde foi fabricada, se é tecido natural ou sintético… tem muita coisa por aí 100% poliéster vendida como se fosse seda e, muitas vezes, com preço de seda.
Mas não é assim em todas as áreas… Bem que os italianos poderiam exigir das prestações de serviços a mesma qualidade que exigem dos produtos… Má vontade de vendedor de loja, recepcionista grossa e respondona, lavanderia que reclama que as cortinas estavam muito sujas e que foi difícil de lavá-las (era o que me faltava!), manicure que não tira cutícula (e acha ruim se você pedir pra refazer… pode?)… essas coisas são comuns por aqui e parece que ninguém se importa, continuam levando as cortinas para lavar na mesma lavanderia, frequentando a mesma manicure e as mesmas lojas… Também não me acostumo de jeito nenhum com o cinema dublado… O duro é saber que os italianos preferem assim, mesmo aqueles que dominam o inglês!.
Mas, pra mim, o pior de tudo é a distância e a saudade da família e dos amigos.

– Você tem sugestões ou dicas para pessoas que pretendem viver nesse país?
Antes de se aventurar por aí, estude bem o país para onde quer ir, e, uma vez tomada a decisão, de modo consciente e sem falsas expectativas, vá de coração aberto, com vontade de se integrar e disposto a novas experiências. Seja flexível e dance conforme a música, lembre-se de que é você que tem que se adaptar ao novo país e não o contrário. Não tem nada mais triste (e mal visto) do que imigrante que se fecha em grupos de “iguais”, passa a vida na Itália a comer arroz com feijão e a reclamar que o feijão no Brasil era muito melhor!

– Você gostaria de recomendar algum web site ou blog relacionado à esse país?
Sites de consulados e embaixadas são sempre as melhores fontes de informação sobre um país, principalmente porque são oficiais. O site do Consulado do Brasil em Milão é super bom, o site da Embaixada da Itália no Brasil também pode ser bem útil.

Sobre Portugal, vale conferir o http://www.embaixadadeportugal.org.br .
Além desses sites oficiais, o site Immigrazione Oggi fornece muitas informações sobre os direitos e deveres dos imigrantes na Itália e pra quem se interessou pelos estudos em Coimbra, o site da Universidade é www.fd.uc.pt
Meu blog não está relacionado diretamente a um país, mas se alguém tiver interesse nas minhas viagens o endereço é http://www.arquivodeviagens.com/

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